quarta-feira, 16 de junho de 2010
Os Guris do Brasil - Parte I- Maicon, Gaúcho, Brasileiro
Manoel estava sentando na sala, vendo TV, quando bateram na porta da casa na Vila Zuleima, em Criciúma. Era o filho Maicon. O menino largou uma malinha no chão e desatou a chorar. Foi um berreiro. Tinha sido dispensado pelo Grêmio. Estava com 15 anos. Via Ronaldinho, Rodrigo Gral e Tinga irem subindo. Um ano mais novo do que as então promessas de craque, viu seu projeto se desfazer.
Juntou as roupas no alojamento do Olímpico, pegou um ônibus e, sem avisar o pai e a mãe, dona Isa, viajou para Criciúma naquele final de 1996. Ficara um ano no Grêmio, disputando vaga como número 8 no meio de campo. Chegou a ser campeão estadual infantil. Mas não deu certo.
O pai telefonou para Porto Alegre e pediu explicações. Manoel Sisenando, hoje dono de uma imobiliária em Criciúma, ouviu de alguém — que ele prefere não dizer o nome — a desculpa de que Maicon era muito franzino. Conta e dá risada:
— Eu tenho 1m84cm. A mãe dele tem 1m82cm. O Maicon ficou com 1m84cm.
Um encouraçado que voa, o filho é considerado hoje um dos melhores laterais do mundo. Manoel sabe que a história de que o menino era frágil apresentava-se, mais uma vez, como desculpa. Manoel foi jogador profissional por nove anos no Rio Grande do Sul. Era lateral direito. Conhece os argumentos usados por técnicos de divisões de base quando um aprendiz de jogador não agrada ou não encaixa no time.
Maicon, que nascera em Novo Hamburgo, estava descartado. Foi morar com os pais e a irmã, Erla Carla, convencido de que havia frustrado a família. Manoel relembra:
— Eu disse apenas que iria arrumar um time para ele.
Conversou com Docil Amboni, dirigente do Criciúma. Maicon voltou a jogar. Em 1998, Manoel foi contratado pelo clube para dirigir as divisões de base. Virou treinador do próprio filho nos juvenis. Passou a observar que o menino, então com 17 anos, não tinha vocação para meia.
Quando Maicon era "muito franzino"
— Ele tinha velocidade, mas no meio o giro dele era lento.
Tentava convencê-lo de que deveria experimentar a lateral direita. Maicon resistia. Em 1998, já como júnior, foi jogar uma partida amistosa em Tramandaí. O Criciúma perdia por 1 a 0. Manoel era o treinador. No segundo tempo, decidiu que o meia viraria lateral, por imposição de quem tinha o comando. Contrariado, o 8 passou a jogar na beira do campo. O time venceu a partida por 2 a 1, com dois cruzamentos de Maicon.
Como lateral, Maicon foi vendido para o Cruzeiro, com 19 anos, em 2000. Quatro anos depois, estava no Mônaco, da França. Este ano, conquistou a Liga dos Campeões da Europa pela Inter de Milão. Numa hora dessas, Manoel não pode nem deve ser modesto:
— Se ele não tivesse o pai como treinador, talvez hoje fosse mais um dos tantos jogadores frustrados no Brasil.
Fonte ZH
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