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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um belo exemplo


Recenseadora de 69 anos conta com ajuda de crianças no RS

O Brasil não tem só mensalão e corrupção. Tem muita gente boa.

A recenseadora Noemia Nazareth Chavez Guimarães, 69 anos, contou com a ajuda das crianças da comunidade de Campo Novo, na zona sul da cidade de Porto Alegre (RS), para entrevistar os moradores das mais 600 casas que estavam em sua área de cobertura. Para ela, o trabalho foi uma experiência de vida. "Eu não imaginava que, com a minha idade, fosse aprender tanto com a realidade dessas pessoas. Foi uma lição de vida", disse a recenseadora. Segundo o IBGE, nas três áreas onde ela trabalhou, apenas 11 casas não foram recenseadas porque os moradores não foram encontrados.
"As crianças eram meus batedores, elas iam na frente afastando os cachorros e perguntando para os moradores quem estava em casa", disse Dona Noêmia, ao lado das crianças que a ajudaram a concluir o trabalho. "Quando ela chegava, a gente ia batendo de porta em porta, perguntando quem estava e cuidava os cachorros que são muito bravos por aqui", disse Cintia da Silva, 12 anos, que encarava a atividade como uma brincadeira. "Virou uma brincadeira correr atrás dos moradores".
Dona Noemia foi a responsável por entrevistar os moradores de três regiões do Campo Novo, condomínio formado por pessoas que haviam sido retiradas de uma área onde foi construído shopping em Porto Alegre. No primeiro setor, ela visitou 175 casas, no segundo 275, e no terceiro 199. De acordo com o IBGE, a média de moradores por residência é de 2,7 pessoas por casa naquela região.
Segundo o responsável pela realização do Censo 2010 em 18 bairros da zona sul, Nelson Guimarães, o trabalho de Noemia "superou as expectativas". "Em algumas áreas, recenseadores mais jovens não tem o mesmo grau de êxito que a Dona Noemia", disse. Dos 95 mil domicílios que fazem parte de sua região de recenseamento, o trabalho foi concluído em 98,9% dos locais.
"Nas comunidades mais humildes é mais fácil de se realizar o trabalho porque as pessoas se conhecem e acabam compreendendo a importância de abrir a porta de suas casas para os recenseadores", disse Guimarães. A recenseadora atribuiu o sucesso de seu trabalho à sua experiência de vida e jeitinho. "Não dava pra chegar batendo na porta das pessoas. Antes de iniciar o trabalho, você faz o reconhecimento, conversa com os moradores e ganha a confiança deles. Se algo começa mal, dificilmente pode ser revertido", disse.
Após conhecer a dura realidade de uma comunidade humilde como a do Campo Novo, Dona Noemia pensa em iniciar uma nova atividade, mas agora, voltada para a própria comunidade. "A gente vê pela TV, mas não sabe, de verdade, como é a real situação dessas pessoas".
Estudo
Quando Dona Noemia disse que queria fazer parte do Censo 2010, as três filhas disseram que ela estava procurando algo para "esquentar a cabeça". "Uma das minhas netas me ajudou a passar na prova, ela dizia: 'vó, vem que eu te ajudo a estudar, quero que você passe', e ficava horas me ensinando português, matemática", disse a recenseadora que antes do concurso havia ficado 45 anos sem estudar.
Apesar do bom resultado no Campo Novo, o IBGE ainda encontra dificuldades para entrevistar os moradores de outras localidades e pede que as pessoas que ainda não foram entrevistadas entrem em contato por meio do telefone 0800 21 8181.

Um comentário:

Anônimo disse...

Achei muito interessante, são coisas assim que temos que publicar, pois a maioria dos jornais não divulgam. Parabéns.